Em condições normais, é expectável que, ao longo da sua vida, todas as pessoas sintam dor.
A dor funciona como um mecanismo de proteção do nosso corpo. Quando sentimos dor, a primeira coisa que pensamos é que algo não está bem. E na verdade, é essa a função que a dor tem no nosso organismo: alertar-nos para algo que possa não estar bem.
Pense em alguma ação ou algum gesto que faça com que sinta dor. Qual vai ser a sua tendência? Repeti-lo? Ou evitá-lo ao máximo? Podemos então dizer que a dor é fundamental para a nossa sobrevivência, tendo em conta que, se fizermos algo que provoque dor, a nossa tendência é a de não voltar a repetir essa ação.
Sabendo isto, a dor é uma forma (ainda que não seja a única) de conseguirmos identificar o que é nocivo para o nosso corpo. Em caso de lesão aguda, a dor é, tendencialmente, o primeiro sintoma que indica um dano a determinada estrutura. Imediatamente após uma lesão, o nosso primeiro instinto é proteger a área afetada, reduzindo o movimento e evitando o contacto.
Sabemos então que a dor funciona como um sistema de alarme para o nosso corpo. Mas tal como um sistema de alarme nem sempre significa perigo iminente, a dor não significa sempre uma lesão.
Cada vez mais existem estudos que mostram alterações a nível estrutural (ósseo, muscular, tendinoso, etc.), que em tempos se consideravam lesões. Estudos feitos com exames complementares, como radiografias, ecografias ou ressonâncias magnéticas, demonstram inúmeras alterações em indivíduos que até à data não apresentavam qualquer sintoma relacionado com os achados. E o oposto também se verifica: indivíduos sintomáticos sem qualquer alteração estrutural que pudesse estar relacionada com os sintomas.
Podemos então retirar daqui a conclusão de que, nem sempre podemos dizer que uma lesão provoca dor, tal como não podemos dizer que a dor reflete uma lesão.
E é a partir desta premissa que se pode afirmar com certeza que a dor não se limita apenas a fenómenos biológicos, ou seja, à componente física. Hoje em dia sabemos que a dor é uma experiência multifatorial, ou seja, é influenciada por um número enorme de fatores, que podemos dividir em quatro grandes grupos:
- Fatores biológicos: associados ao próprio corpo, como é o caso de lesões, patologias, o género, a genética, distúrbios a nível hormonal, entre outros;
- Fatores sociais: fatores que não estão relacionados apenas com a pessoa, mas também com o meio que a envolve, a cultura, as suas crenças, o suporte da família/amigos;
- Fatores psicológicos: as crenças da pessoa relativamente à dor, a cinesiofobia (medo do movimento) e problemas emocionais são, grande parte das vezes, fatores que podem provocar um aumento na dor;
- Fatores comportamentais: mais relacionados com o estilo de vida e com os hábitos que a pessoa tem, como a alimentação, o exercício físico (tanto em falta como em excesso) ou o sono, e que podem, tal como os outros, influenciar a dor.
Analisando estas variáveis, não podemos olhar para eles de uma forma isolada, ou seja, uma dor não deriva só dos fatores biológicos, ou só de fatores psicológicos, mas sim de uma conjugação de todos estes fatores.
Concluindo, a dor, ao ser influenciada por tantos e tão diversos fatores, torna-se uma experiência subjetiva e individual, pelo que, respondendo à questão que nos trouxe aqui:
Não, a dor não é igual para todos.
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